A menor dependência energética americana e as dificuldades da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para reduzir suas cotas de produção são desafios para países que entrarão no mercado como vendedores nos próximos anos, como o Brasil. A conclusão é do relatório “Oil and Gas Reality Check — um olhar sobre as principais questões envolvendo o setor de petróleo e gás”, lançado pela consultoria Deloitte no final da semana ada. No documento, a consultoria prevê um cenário de excesso de oferta, com mudanças nos fluxos globais de energia e uma disputa maior de novos produtores por mercados consumidores.
O relatório cita Canadá, México, Brasil e Casaquistão entre os países com potencial para incremento na produção de petróleo até 2030 — dentre elas, a produção brasileira é a que mais crescerá, com alta de 3,9 milhões de barris por dia. “Se o apetite dos Estados Unidos ficar estagnado ou cair, essas nações terão que procurar por mercados alternativos”, diz o documento, que vê uma “onda de crescimento” na oferta global de petróleo. Principal reguladora de preços, a Opep, por outro lado, enfrentará dificuldades para reduzir suas cotas de produção, diante das demandas por investimentos criadas após os protestos da Primavera Árabe.
“A Opep vive um dilema de médio prazo”, analisam os especialistas da Deloitte. “As expectativas de excesso de oferta podem levar a uma queda nos preços globais, criando dificuldades orçamentárias para países exportadores e desafios para a indústria, especialmente para projetos em ambientes de alto custo. Contudo, a resposta típica de reduzir cotas de produção pode também criar efeitos negativos, como a redução da receita de alguns membros, além da queda da participação da Opep na oferta global e, consequentemente, de sua influência no mercado.”
Na última semana, em função do fechamento de refinarias no Iraque, o preço do petróleo atingiu o maior valor em 9 meses, na casa de US$ 115 por barril. A Deloitte, no entanto, acha que o cenário de sobreoferta aponta para preços estáveis nos próximos anos: a Agência de Informações em Energia do Departamento de Estado dos Estados Unidos (EIA), por exemplo, trabalha com uma faixa entre US$ 90 e US$ 100 por barril.
“As novas fontes de suprimento vão movimentar os mercados na próxima década. O crescimento da produção interna americana e em países como Canadá, México, Brasil e Casaquistão vão alterar os mercados globais de hidrocarbonetos e o cenário geopolítico”, afirmam os analistas da Deloitte.
Para eles, o petróleo ará a ser tratado como uma commodity regional, com os fluxos comerciais realizados em menores distâncias. Já o gás natural, ao contrário, a a ser, cada vez mais, uma commodity global, com a entrada em operação de novos terminais de liquefação para exportação do produto em transações intercontinentais. Nos últimos anos, o Brasil tem se tornado um grande player neste mercado, do lado importador — em março, por exemplo, o país comprou, em média, 21 milhões de metros cúbicos por dia no exterior. O comércio mundial de gás natural liquefeito, que mais do que dobrou entre 2000 e 2013, para 850 milhões de metros cúbicos por dia, deve atingir novo pico após 2015, com a entrada de novos projetos de liquefação com capacidade superior a 226 milhões de metros cúbicos por dia.
“O crescimento da produção em uma parte do mundo e o crescimento da demanda em outra parte leva a uma grande mudança na indústria de óleo e gás. Essa mudança no padrão de oferta e demanda rearranja o mix global em favor do gás natural. E isso terá impacto significativo entre todos os participantes da indústria, assim como implicações nos preços das commodities, nos fluxos de comércio, nas políticas e na tecnologia”, conclui o documento.